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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O poeta que falava com a Lua

Quando a cor do asfalto cobre os prédios nos seus tons de penumbra, e a noite percorre ruas e praças com a luz fria que me traz as letras, o mundo adormece.
Entre o ressonar antigo do alcatrão e o carro ao virar da esquina.
Eu, fascinado, ali permaneço, sereno de arritmias poéticas, com mil e uma contradições e afirmações, de sentido incógnito.
Falando, escutando as minhas efemérides que pacientemente me repetes noite após noite, como se o tema de conversa nos faltasse.
Confesso, prego a noite como a minha inspiração. Porém se também durante o dia brilhasses, jamais abandonaria o meu banco na varanda, de onde meus olhos se apaixonam pela tua tez pálida a uma unidade astronómica de distância.
Um verdadeiro amor platónico, mal te conheço, e tu, curiosa mas sem perguntas sabes de mim como ninguém.
Sei que lá do alto, na tua expressão emotiva, falas comigo, devagar, com o teu sotaque sério e misterioso, numa linguagem que inventamos para os nossos encontros, sempre que não te escondes atrás do Sol.
Quando me tiram a paixão da noite que mesmo cheia de estrelas, morre, à tua mercê, morta pela escuridão que a tua ausência deixa para trás.
Falas-me dos sítios que visitas, e como as pessoas ganham e perdem tão frequentemente a força, de como é importante o amor, a amizade, e; até o dia, dizes-me com os teus mais rebuscados tons de ironia. Queixas-te pouco das guerras por esse mundo fora dizendo que isso é o ignorável da vida humana.
Falas de Romeu e Julieta, de Pedro e Inês e outros amores que ainda choras. Contas-me com gozo as tuas aventuras espaciais, gabas-te de seres inspiração de tantas histórias e mitos.
Quando te cansas de falar, perguntas-me se alguém te mencionou, e eu amante mentiroso, digo que toda a gente te elogiava a beleza da noite passada, só para vislumbrar o sorriso que o escuro da noite não deixa disfarçar.
Brinco com as histórias que ouço sobre ti, que para os gregos eras uma lágrima de deusa, que crias lobisomens e vampiros, que o Kennedy, não era mais que um parolo que não sabia como te conquistar, e que te escreverei trinta poemas para te ter todas as noites atenta a mim. Dedico-te versos perdidos de Hemingway e de outros, anónimos.
E quando estás de partida, a manhã chega sempre a mesma, despeço-me, com a saudade já no canto do olho.
Miro então a tua retirada para outro lugar do globo, enquanto o Sol raia além no Este.

Escrevo-te, com saudades da noite em que eu e tu juntos à janela partilhamos os meus sonhos tão diferentes dos do mundo.
Assim que o mundo cai nas artimanhas do João Pestana, sentar-me-ei à janela, ansioso,
Sonhador que fala com a Lua