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sábado, 17 de março de 2012

Pessoas boas colam Estrelas no céu.

O aparo tarda em tocar o papel assim como tardo em trazê-lo à folha pautada.
Estou invulgarmente distraído do mundo.
Quando se chega a determinado ponto penso que pouco se pode criticar o que se passa.
Porque mesmo quando as estrelas lá no longe queimam numa combustão que dá sentido à palavra eternidade... Eu queimo... Na saudade e na ansiedade de ter medo. De ter força para continuar a lutar sem saber se no fim de todas as batalhas(e dúvidas) me será permitido levantar o meu estandarte de bandeiras, com cores vivas, tão excepcionalmente diferentes do branco(de quem não levou a guerra ao limite que tendia para a vitória), e do preto(de quem não soube que o fim da guerra não consiste apenas no contínuo salteamento de coração para compensar o que decididamente não fora pilhado, mas entregue).

Quando se ama mais, tudo muda...
Quão velha é a minha alma quando o céu está encoberto?
Quão velha é a minha alma quando não chove e não raia o Sol?
Quanto tempo e quanta saudade podem viver e morrer na alma? -Quando se chora o que ainda não foi mas que foi acreditado a ser com o tiq-taq do relógio.

Penso: E se as pessoas, pessoas boas queimassem como as estrelas. E não soubessem porque queimam e ardem, em olhares que podem fazer arder para sempre. E se as pessoas queimassem, só quando são pessoas boas. Porque ser bom queima mais que optar pelo milagre gravitacional que existe, no momento em que as estrelas se esqueceram, que longe, longe, longe(mais longe do que chega o dia), na Terra foram oferecidas, no acto que apaga o fogo das pessoas boas.

Quão velha é a tua alma?
Quão jovem e frio esse coração? Que não deixa o fogo atear?

Mesmo que as estrelas chovessem na terra batida, em pequenas promessas, despedaçadas, que apagaram o doloroso e maravilhoso fogo de quem as prometeu.
E que caia o céu, onde caminho para colar estrelas que estão quase a cair, ou que apanhei no chão das promessas que foram mais longe, do que quem ofereceu as estrelas.
Mesmo que tudo se desfaça...
Eu continuarei a arder.
Eu, continuarei a caminhar e a tropeçar nas nuvens, para colar as promessas de um mundo que quis fazer estrelas brilharem no enorme pano azul.
Com a irreversível esperança de que uma noite, alguém cole as nossas promessas num céu que mesmo encoberto não esconde sorrisos que valeram uma luz que dá significado à palavra... Eternidade.

Porque estrelas são promessas; que só Pessoas boas conseguem fazer.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Canta(-te)

Sobre a passadeira brilha o Sol da Sexta-Feira que se pôs em Cascais.
A brisa, envergonhada e gentil empurra e leva ao colo papéis amachucados ao longo dos travessões, encardidos, pintados, nas cores negras do alcatrão ainda recente.
Pairam nuvens lá longe, falsas e fingidas, que não fazem chover. Apenas de tempo a tempo, se aproveitam para cortar os raios, deixando na penumbra o “flyer” que acaba de se recostar junto à calçada.
É tépida e líquida a tarde.
Em bifurcações, sem peneira para se tapar a nossa estrela, escrevo. Mentalmente (porque a caneta da escola morreu da falta de tinta) de recordações recentes. Futuros tão irreversivelmente imaginados que tocam quase na realidade (que apenas vale a quem não consegue imaginar nada melhor).
Fala-me ao ouvido… Tímido rumor do miocárdio. Que aprendera recentemente a cantar sem floretes (aluno de mérito).
Fala-me, canta-me em cantigas faladas e recheadas das efemérides do nascer dos Sóis de Segundas e Quartas que ainda tardam em dias que parecem não ter fim...
Canta, certo de que cantar é a chave das Portas de Quimera.
Bate, calmo e forte, tão possante quanto sonho que os sonhos sejam (e serão por certo).
Canta, como coração cantante que esperou demais pelo fim do silêncio denso e cru, de vácuo que transportei tantas vezes no peito.
Canta manhãs, descreve nos tons, as cores, proibidas. De um espectro que me acostumei a ver apenas no céu.
Canta, como se a vida nunca lhe tivesse dito que apenas o silêncio vale ouro.
Canta…
Canta como canta sempre que espero…
Canta, rima desfazendo as bifurcações da alma, dissolvendo cruzamentos e dúvidas, dilemas e enleados, numa solução de passados enlameados de insignificância que vezes de mais cantou na melancolia das insónias, com um flauteado de fatalidades.
Canta como a brisa que toca a nuca e arrepia a espinha em agudos divinais.
Canta Epopeias sentimentais e de final incognitamente feliz (espero). Odisseia em que nunca Icara teria perdido a esperança.
Canta como cantam os corações dos homens que vivem para ouvir o coração cantar.
Canta sem fingir, playback ou pautas arranjadas algures.
Canta prados verdes de calma, em que só o agitar da folhagem fala. Numa língua mágicas que, em segredo, Caeiro se divertira a traduzir.
Canta, e canta e canta sete vezes no júbilo que é o hino que dá valor à vida.
Canta à capela e sem fronteiras, rezando a chegada do momento em que sussurrarei esse canto ao teu ouvido.
Direi no fim que coração cantante canta os ecos que nunca as palavras escritas ou sussurradas à beira mar poderão traduzir.
Coração do poeta canta ensaiando as verdades nas entre linhas e nas pausas entre arpejos.
Esse coração que já se fartou de cantar na penumbra de uma música já composta improvisa agora em solos loucos e abismais.
E eu espero, cantando sem cantar o que o coração que não conhecia a certeza me sussurra lá dos confins da alma.
Apenas tu, na certeza da hora certa saberás o que canta esse coração (que canta o que jamais o ouro poderia pagar) quando ouve a tua voz.