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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Cidade dos Anjos

Bom dia. Sim, porque há dias que são obrigatoriamente bons. Tal e qual orvalho que pinga das letras no cansaço que foi pingar.
Há dias que são bons porque é simplesmente natural ter dias bons. E outros que fatidicamente não podem ser maus, ou não se troque o destino nas datas.
Hoje tenho asas, e voo baixinho. diz se baixinho, porque o universo é infinito e por muito "alto" que seja aos olho de um possível deus o máximo que serei é sempre uma gaivota. Já não vou para anjo. Ainda não abriram as candidaturas ao céu.
O mais que posso fazer é sonhar no infinito, que só por si é já uma palavra limitada que falhou a descrever tantos sentimentos sem fronteiras definidas.
Eu voo, sentado nas minhas linhas. De cabeça cheia de prosa desfeita. Coração cheio de histórias.
E voo, deitado nas palavras.
Desperto na tinta, nas feições de cada letra.
Perdido, em ti.
Ou talvez em mim. Quando se está perdido não se sabe exactamente onde se está. Assim como quando se voa.
No meu, ou no nosso...
Céu.
O meu amor, são dias que são bons quando não estava marcado.
quando o fado dorme até tarde e não dita ao nascer do Sol.
É uma lareira acesa num dia de Inverno.
São beijos que deixam palavras como infinito parecer pequenas. Afinal, são só oito letras e um segundo.
Sentado nas minhas linhas o tempo tem indecisões, e Cronos desorienta-se. Ou talvez seja só pretensioso.
Pensar que quem se senta em cadeira altas se incomoda com quem voa baixinho.
Talvez até pensar.
Só sei que há dias destinada ser bons. E dias que sem destino ser tornam bons.
E que contigo isso acontece quase sempre.
Talvez sinta que não voo tão baixo de mãos dadas.
Meu amor, há dias e dias. e segundos que valem Eóns.
E é em eons que se mede a altura dos meus voos.
Passamos todo esse tempo a conversar, e a viver.
Anjos voam alto. Eu voo Éons em que eles ainda nem tinham sido pensados.
É possível que o meu mundo contigo seja mais antigo que a própria Terra.
É crime no meu mundo ser tempo da convenção.
Éons de histórias por contar e inventar somos nós.
Sentados em cadeiras baixinhas a ver a cidade dos anjos.
Bom dia e Feliz Natal.




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Novembro

Novembro está de volta após um ano de ausência. Sem a graça de vermos que os anos cada vez menos tardam menos a passar. Inverno, por fim.
Sob o asfalto paira agora agua fria, numa cortina de espelhos que não fossem os rasgos de Sol pela manhã poderia bem ser eterna. Ou pelo menos tão eterna como eu.
Na rua acabaram os passeios das tardes de Verão e Outono. Já voaram todas as folhas da calçada, e a geada toma por fim conta dos passeios.
Pela rua, o silêncio caminha com passos leves, parando a olhar uma ou outra gaivota que se atrasou no regresso a casa.
Anda, pelas praias enamorado com o mar bravo, que veio acordar.
Ouve o cantar junto à ondulação das marés que finalmente estão vivas.
E a noite... Tão mais longa, tão mais bela, quando me abraça e com beijos gelados me aconchega.
Digam o que disserem não há poesia como a da chuva a bater na janela... Não há música como o mar furioso a massacrar a costa...
Não há dias como o de hoje nem como o de ontem nem como nenhum outro...
Não há luz como a do Sol de Inverno,
Não há perfume mais delicioso que o da terra molhada...
Não há fugas nem viagens como ndar lado a lado com o silêncio numa cidade abandonada à chuva.

E pensar, que tudo assim é mais belo, na melancolia cinzenta dos céus de Lisboa.
Esses céus que em breve abandonarei para sentir o calor da lareira acesa e na sinfonia que é uma casa cheia de amor e carinho saborear mais um Natal. Lá, no nome de um santo que ao frio rasgou a capa e partilhou.

Dava tanto para que todas as noites fossem assim. Com a avó a tentar atecipar a hora para recolher aos aposentos e ao conforto do sono.
A mesa sempre posta e recheada de bolos e outros assassinos das mais esmeradas dietas.
A consoada... As sete pessoas e as quatorze conversas, os risos, as prendas, a paz.

E nas gottas grossas me distraio do Novembro que ainda agora nasceu...
No silêncio que passa agora à minha porta e que recupera folego no miar incansavel do gato.
O Inverno continuará na saudade que me deixou o Inverno passado.
Eu passarei nele, saboreando a brisa... Já cheira a Natal...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Introdução ao cálculo (Teórico-Prático)

Matemática, define-se, além de como uma valente dor de cabeça, uma linguagem, em que se pode dizer tudo...
Simbolicamente (literalmente), matemática teórica diz uma das mais belas e dificeis de explicar práticas que até hoje ouvi falar.
Temos então o problema da vida real enunciado(como convém) no parágrafo abaixo.
1. (e único) Demostre matemáticamente que é possivel na vida real que duas pessoas se completem.
Nota: recorra às regras da multiplicação e da escrita matemática leccionadas.

Sugestão de Resolução:
Se fizermos de mim, u (porque me apetece), e de ti, m(porque mulher começa com m).
Sabemos então que eu sou u, e que tu, se não te vier daí inconveninete serás m.
Diz-se, ou sabe-se (porque em matemática não se diz, sabe-se e pronto!) que, para todo e qualquer u existe pelo menos um m de tal modo que u.m encontra solução em R (embora haja um ponto que insiste em separar-nos).
Simplificando, porque nestas situações simplifica-mos sempre até estar como nos dá jeito.
Para todo o u existe pelo menos um m de tal modo que u.m= um(a unidade). Felizmente posso e não quero simplificar mais. Até o mais pequeno ponto de separação se pode eliminar. Mistura-se, junta-se, sem pontos, nem traços, nem cruzes, nem barras pelo meio. Porque a matemática fala de números e incógnitas que para deleite do mundo são aplicáveis além da teoria.
Eu(u), tu(m) na mesma equação somos possiveis em R e somos certamente diferentes de 0.
1 é o número que a matemática descobriu e que ninguém aplicou. Possivel, possiveis, desde o Natural(N) ao Imaginário(C).
Fatal, equacional (ou emocional). Tão Real quanto imaginário(Complexo) um número pode ser.
Basta mudar a varíavel, e temos uma condição universal... o amor.

Sabe-se que para todo o Eu, existe um e um único Tu tal que eu Eu por Ti=1 e Tu por Mim =1 (em tudo).
Ordem irrelevante (Tu, Eu e o mundo sabemos), pois a multiplicação goza da propriedade comutativa, mas nem eu nem tu gozamos. Há coisas que são para ser, teoricamente, e de facto resultam na prática. Possível e universal no Real (e em todos os conjuntos que os olhos humanos viram até hoje).

Simplifica, Implica, Justifica, Aplica. Não há equações que sejam sempre impossiveis.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Para a minha mãe

Ela,
A mulher da minha vida, Sol de Inverno, bancos de areia no rio, os mantos basaltos que sustentam todos os meus oceanos, as conversas que não acabam quando o meu sono não vem, a minha escrita que se mantém no oculto, o espelho que refletiu tantas vezes a força que tive de ter, o Amor que durará para sempre, músicas de amor, ainda que indirectamente. Nunca esperou nada em troca, e sei que assim será sempre.
Ela define a perfeição aplicada à forma humana desde o primeiro dia. É fortaleza, é lar, é tesouro.
Dádiva divina ou simplesmente o mais maravilhoso acaso desde o aparecimento da vida na Terra. Aquele sorriso que seca qualquer lágrima, a lágrima voluntária que apaga qualquer mágoa que me queime. A preocupação que me descansa e liberdade que admiro. 
Será a maior declaração que alguma vez fiz, o meu maior paragrafo, a minha maior vitória, o meu maior legado, a mais bela de todas as mulheres no universo. Com 15, 50 ou 90 anos sei que continuará a ser a beleza que ilumina as minhas manhãs, as minhas histórias, a minha imaginação.
É o texto que mais senti até hoje. Escreveu-me dos pés à cabeça, Torna cada dia no céu, o sorriso repetido na minha cara. O amor que dou, e que ela um dia me deu a mim.
Personificou o bem, sempre, sem falhar. Alimentou corpo e alma sem arrependimento, protegeu de todas as invasões, foi castelo no deserto, batalhou por mim mais vezes do que as que sei contar. Ganhou sempre por mim, sempre, que é tão pouco ao pé dela. Lembrarei até o dia em que morrer das vezes que fingindo dormir te ouvi dares-me as boas noites. Todas as vontades, quando podias e não podias. Quando o esforço que fazes para me ver sorrir faz pouco da força dos deuses. O nascer e o pôr-do-Sol. A vida que de nenhuma outra forma teria. O respeito que sonho para todos. Não terei nunca pulmões para gritar o quanto te amo. Escrevo hoje o que lembrarei todos os dias.
Ela que detesta ser tratada na terceira pessoa. e me diz sempre que me distraio e me sai um "ela" e me repete com o maior sorriso de irritação e carinho: "não é ela, é mãe".

Obrigado


sábado, 25 de agosto de 2012

Heróis

Quando o céu grita... Em tambores que rufam ao som da tempestade que está já perto.
O Sol foi-se já antes da Lua ter ocupado o seu habitual lugar na noite passada, e ainda é esperado desde então. O vento gela, sopra do Norte, no seu mais frio temperamento, quase metálico.
Hoje o Sol ainda não brilhou... Pelo menos fora de mim.
O agitar das árvores não esconde as discussões da natureza e, o tremer da caneta deixa tão mais claro o fogo que se acendeu onde mora a alma.


E penso: Heróis, Herói, palavra vã. Vazia perto do que significa. Herói, todos sem exepção. Não só os que mandam titãs para os jardins do Tártaro. Não o que professa o fim de Satã. Não só esse quando, reza a história que desses, o segundo nunca se espelha na vã palavra. Herói, vazia palavra comum a todo o ser. O A invertido no conjunto os números mágicos da humanidade.


Sob o céu cinzento aqui estou. Herói de tão poucos, mas Herói. Sem recorrer a mais do que a força que reside no corpo.
Herói de um circulo poucas vezes maior do que o trignométrico. Herói num circulo onde nunca há dias assim.
Herói sem força nos bícepes mais que suficiente para escrever e para abraçar. Herói sentado à espera. No vento irregelante aguardando, sem pressa, que me aplaude sem palmear uma mão contra a outra.
Herói, num mundo cheio deles.
Dificilmente capaz de enfrentar os ventos do Norte. Herói que abraça tudo, como qualquer abraça a amante a quem confiou o coração.
Herói que nunca salvou multidões das tempestades comuns a todos, mas que de peito aberto o dá aos raios e trovões de cada um.
Herói do qual não reza a mitologia.
Herói sem casaco, porque achou que o tempo seria um aliado.
Herói, sem espada.
Herói, sem profecia.
Herói, sem seguidores.
Herói... como todos os outros.
Assim, porque nada mais poderia eu ser.
Porque ser Heroi é fazer os outros sorrir.
Herói, porque ser Herói é ser raro, é ser amigo de amigos felizes.
Herói, porque ser Herói está ao alcance de todos.
Homens medem-se pela grandeza dos seus actos e pela extensão das suas acções. Herois medem-se... Não, é tão mais dificil medir Heróis do que medir homens.
Sim, tão mais dificil, têm unidades diferentes.

A terra conquistada mede um homem, Um homem morto mede um homem.
Um coração conquistado(ou mil) mede um Herói, Um(ou mil) homem salvo mede um Herói.
Paciência e amor são tantas vezes mais importantes que a estatura...

Oiçam o que vos digo. Heróis são luzes que brilham quando no ser tudo escurece. Luzes de presença. Heróis são homens que a ciência nunca mediu no Sistema Internacional(SI).
O homem passa... O Herói fica mesmo que passe adiante... É o amigo que mais vezes nos salva. É provavelmente o único Herói que conheço, seja pai irmão ou colega.

É aí que brilha o Sol mais quente e zumbe o vento menos frio.
Sim. Vocês são todos Heróis. Todos Sol Nascente onde habita o gelo da noite. São o dia típico quando chega a chuva branca. São a aragem fresca quando Portugal arde no Verão.

E com vocês vôo sem asas. Sem mais dias frios.
Serão Heróis todo o tempo que partilharmos, tempo que o tempo fará sempre parecer pequeno.

11.06.2012

(mud)Ar

Lembrarei sempre o meu nome.
Se calhar toda a gente muda com os dias.
Se calhar toda a gente muda.
Se calhar... Se calhar tudo muda.
Se calhar... Se calhar, esses ventos magos que fascinaram artistas, reis generais...
Homens, como os outros, com a simples peculariedade de terem em si a loucura e a presunção de acharem que serão deles os pulmões a abrir caminho no meio da multidão e a decidir a direcção que o vento toma.
Quando a mente se evade da caixa craniana e do pequeno, a que o físico humano obriga e emigra, a fim de ganhar a força que consiga rolar vendavais nas almas alheias, pobres, anónimas e mirar em extase, o mundo a ir na brisa... Deixar-se levar em multidões sedentas pelo prazer que é mudar.
Então, eclipsam-se as dúvidas, brilha a Lua, raia o Sol. Chove, encharcam-se as ruas de revolta. Exaltam-se vozes no baixar de outras... Que como eu assistem, e pensam meditabundos.
"Quão irreal... Quão impávido... Quão confortável consigo eu ser quando todos mudam e eu não sei porquê?"

Ser humano é ser naturalmente descontente... Ser feliz é ser humano?
Duas realidades assim tão imcompatíveis? (e eu sei que ser feliz pode ser a realidade)
Porém... pensado e feito está já a sopro a brisa mágica...
As pessoas, os sítios, o andar do relógio.
Quebram, cedem, e erguem impérios que não vão além da morada...
Mudam para melhor, mudam para melhor...

A vida não é menos feliz pela paixão desenfreada pela mudança...
Se bem amo a palavra que passa a mensagem.
Amo a mudança... Assim com o cru prazer da euforia e do apaixonar...
Simplesmente não vejo como...

Enquanto o mundo à minha volta rodopia num eterno carrossel onde nunca encontramos o que deixamos esperando no mesmo idílico lugar.

Só porque toda a gente muda e eu me sinto igual a todos os dias...

Mudar é dos mais fantásticos verbos da vida... porém, nunca ultrapassará o verbo ser, quando o sorriso está na segunda pessoa.

...Lembrarei, sempre, o teu nome...


Não datado

Shhhh.......

Alto, bem alto. Espreito a Lua, semicheia.
A almofada vazia, leito abandonado, sabe o tempo por quanto tempo.
Talvez nunca lhe tenham desfeito o espanto dos lençóis por abrir. Talvez nunca lhe tenham explicado que nem todos os sonhos se descobrem e vivem durante o sono.

De caneta na mão, relógio parado e olhos vermelhos sonho cada linha de mais uma noite de histórias fantásticas, contadas entre a tinta e o silêncio.
Sim, o silêncio conta histórias, tantas vezes mais maravilhosas e elouquentes do que as que enchem os livros de lendas. Silêncio é Grimm no quarto crescente e em todas as noites.
Formidável, como entre pausas mudas dança o que em mim desconheço. Num sorriso que nunca ninguém há-de conhecer.
Entre o estalar do soalho e o eventual carro a cruzar a rua, o chão cobre-se de ciano ou carmesim, as paredes pintam-se de árvores, ou somem na aridez desértica do clima Sahariano. O ar torna bruma, que no tempo destilado me leva a Camelot, El Dourado, Atlântida, Shangri Lá.
E a Lua e eu entretidos descobrimos as mil e uma noites que nem a tinta nem o sono puderam contar.

Quando, cansado de cantar, se vai com o trinar dos torninhos, volto à cama. Pronto para me desiludir pelos sonhos do sono. Porque já é cedo demais para sonhar sem dormir.

Até logo...

07.04.2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sobre... a mão


Sobre amor escrevo à mão.
Sobre beijos, escrevo á mão.
Sobre manhãs de Verão escrevo à mão.
Sobre músicas que levam o espirito a voar e o coração temer e estremecer.
Sobre alguém,
escrevo à mão.
Sobre atrasos e textos escritos à mão escrevo à mão.
Sobre nós escrevo à mão.
E sobre insónias e adormeceres pensados,
Sobre mãos dadas e o mar a massacrar a costa numa milenar música
Que embala namorados, em passeios sem destino,
Escrevo à mão.

Escrevo e escrevo, e vão se as cargas e as pestanas e as expressões.
E vão-se as linhas e os blocos.
Fica, só o rasto de tinta que deixa o aparo quando escrevo à mão.

Dança, e pula de vírgula em palavra, bailando ao longo das linhas onde a confusão é ordem que quase se podia chamar poesia. O rasto caótico e latente no coração, onde mora o que na sua plenitude…
Me deixa solitário a escrever à mão.

Quando o Sol se deixa cair, ou o sono se teima em não habitar.
Quando a maré alta, cobre as pedras e foge a correr. Quando o badalar das tantas ou das poucas ecoa junto do soalho
Eu escrevo à mão.

Quando o amor é ridículo. Quando o mundo deixa de olhar.
Quando o silêncio parece maior, na saudade que cessou e abdicou pelo sonho e pelos planos.
Quando a madeira estala e ecoa no cosmos os cantos do coração, escrevo à mão.

E,  por fim, quando já cansado ou sem tinta, calejado da escrita e do puro deleite que é escrever à mão,
Caio no êxtase que cintila nas noites de Verão ou nas manhãs junto ao mar.
Quando escrevo à mão…
Quando escrevo sobre amor…
Quando escrevo sobre beijos…
Quando escrevo sobre músicas que anseio dançar…
Quando escrevo à mão.

Quando a paixão é grande demais, e já não cabe no peito.

Escrevo á mão.

Onde mais que linhas a preencherem-se vejo o prolongamento do ser nascer na tinta azul.
Deixo-nos existir…  mais do que no coração, no papel.
E sei e espero estar certo…
Hei de nos prolongar por muito mais linhas.

Porque escrever á mão é estar apaixonado.

                                                                                                                  21/03/2012

sábado, 17 de março de 2012

Pessoas boas colam Estrelas no céu.

O aparo tarda em tocar o papel assim como tardo em trazê-lo à folha pautada.
Estou invulgarmente distraído do mundo.
Quando se chega a determinado ponto penso que pouco se pode criticar o que se passa.
Porque mesmo quando as estrelas lá no longe queimam numa combustão que dá sentido à palavra eternidade... Eu queimo... Na saudade e na ansiedade de ter medo. De ter força para continuar a lutar sem saber se no fim de todas as batalhas(e dúvidas) me será permitido levantar o meu estandarte de bandeiras, com cores vivas, tão excepcionalmente diferentes do branco(de quem não levou a guerra ao limite que tendia para a vitória), e do preto(de quem não soube que o fim da guerra não consiste apenas no contínuo salteamento de coração para compensar o que decididamente não fora pilhado, mas entregue).

Quando se ama mais, tudo muda...
Quão velha é a minha alma quando o céu está encoberto?
Quão velha é a minha alma quando não chove e não raia o Sol?
Quanto tempo e quanta saudade podem viver e morrer na alma? -Quando se chora o que ainda não foi mas que foi acreditado a ser com o tiq-taq do relógio.

Penso: E se as pessoas, pessoas boas queimassem como as estrelas. E não soubessem porque queimam e ardem, em olhares que podem fazer arder para sempre. E se as pessoas queimassem, só quando são pessoas boas. Porque ser bom queima mais que optar pelo milagre gravitacional que existe, no momento em que as estrelas se esqueceram, que longe, longe, longe(mais longe do que chega o dia), na Terra foram oferecidas, no acto que apaga o fogo das pessoas boas.

Quão velha é a tua alma?
Quão jovem e frio esse coração? Que não deixa o fogo atear?

Mesmo que as estrelas chovessem na terra batida, em pequenas promessas, despedaçadas, que apagaram o doloroso e maravilhoso fogo de quem as prometeu.
E que caia o céu, onde caminho para colar estrelas que estão quase a cair, ou que apanhei no chão das promessas que foram mais longe, do que quem ofereceu as estrelas.
Mesmo que tudo se desfaça...
Eu continuarei a arder.
Eu, continuarei a caminhar e a tropeçar nas nuvens, para colar as promessas de um mundo que quis fazer estrelas brilharem no enorme pano azul.
Com a irreversível esperança de que uma noite, alguém cole as nossas promessas num céu que mesmo encoberto não esconde sorrisos que valeram uma luz que dá significado à palavra... Eternidade.

Porque estrelas são promessas; que só Pessoas boas conseguem fazer.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Canta(-te)

Sobre a passadeira brilha o Sol da Sexta-Feira que se pôs em Cascais.
A brisa, envergonhada e gentil empurra e leva ao colo papéis amachucados ao longo dos travessões, encardidos, pintados, nas cores negras do alcatrão ainda recente.
Pairam nuvens lá longe, falsas e fingidas, que não fazem chover. Apenas de tempo a tempo, se aproveitam para cortar os raios, deixando na penumbra o “flyer” que acaba de se recostar junto à calçada.
É tépida e líquida a tarde.
Em bifurcações, sem peneira para se tapar a nossa estrela, escrevo. Mentalmente (porque a caneta da escola morreu da falta de tinta) de recordações recentes. Futuros tão irreversivelmente imaginados que tocam quase na realidade (que apenas vale a quem não consegue imaginar nada melhor).
Fala-me ao ouvido… Tímido rumor do miocárdio. Que aprendera recentemente a cantar sem floretes (aluno de mérito).
Fala-me, canta-me em cantigas faladas e recheadas das efemérides do nascer dos Sóis de Segundas e Quartas que ainda tardam em dias que parecem não ter fim...
Canta, certo de que cantar é a chave das Portas de Quimera.
Bate, calmo e forte, tão possante quanto sonho que os sonhos sejam (e serão por certo).
Canta, como coração cantante que esperou demais pelo fim do silêncio denso e cru, de vácuo que transportei tantas vezes no peito.
Canta manhãs, descreve nos tons, as cores, proibidas. De um espectro que me acostumei a ver apenas no céu.
Canta, como se a vida nunca lhe tivesse dito que apenas o silêncio vale ouro.
Canta…
Canta como canta sempre que espero…
Canta, rima desfazendo as bifurcações da alma, dissolvendo cruzamentos e dúvidas, dilemas e enleados, numa solução de passados enlameados de insignificância que vezes de mais cantou na melancolia das insónias, com um flauteado de fatalidades.
Canta como a brisa que toca a nuca e arrepia a espinha em agudos divinais.
Canta Epopeias sentimentais e de final incognitamente feliz (espero). Odisseia em que nunca Icara teria perdido a esperança.
Canta como cantam os corações dos homens que vivem para ouvir o coração cantar.
Canta sem fingir, playback ou pautas arranjadas algures.
Canta prados verdes de calma, em que só o agitar da folhagem fala. Numa língua mágicas que, em segredo, Caeiro se divertira a traduzir.
Canta, e canta e canta sete vezes no júbilo que é o hino que dá valor à vida.
Canta à capela e sem fronteiras, rezando a chegada do momento em que sussurrarei esse canto ao teu ouvido.
Direi no fim que coração cantante canta os ecos que nunca as palavras escritas ou sussurradas à beira mar poderão traduzir.
Coração do poeta canta ensaiando as verdades nas entre linhas e nas pausas entre arpejos.
Esse coração que já se fartou de cantar na penumbra de uma música já composta improvisa agora em solos loucos e abismais.
E eu espero, cantando sem cantar o que o coração que não conhecia a certeza me sussurra lá dos confins da alma.
Apenas tu, na certeza da hora certa saberás o que canta esse coração (que canta o que jamais o ouro poderia pagar) quando ouve a tua voz.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

É triste, por Ti

Na tarde, soa a tranquilidade agonizante que tira a vida ao Sol de Inverno (e tiraria a mil sóis de Inverno).
Na mesa do canto, descanso, numa melancolia de quem espera e desespera pela chegada da hora de abandonar a sombra das mesas vazias, que se estendem além dos rumores, de um par de reformados na sua sempre igual cavaqueira.
em cima da mesa jazem, a carteira, vazia, a chávena tombada sobre o pires mal lavado e o pacote de açucar dilacerado que tornou o café suportável.
Sobre a mesa, sobre a mesa, sobre a mesa...
Sobre a mesa abre-se um caderno de uma qualquer matéria. Um desprezível caderno barato (porque não se precisa de nada para amar).
E a história, como ciência redundante repete-se, e escrevo uma carta que lerás, e que desconhecerás que em ti paira o segredo de um "Para:" por preencher.
Escrevo, e as letras correm para o papel numa hemorragia incessante do meu peito trespassado e salteado por ti.

É, por Ti, até triste o calor da tarde que amo tantas vezes.
É, por Ti, triste o livro fechado e a chávena vazia.
São tristes os risos dos empregados que não inventaram mais para fazer.
É triste o poeta que não dorme para amar. Que não fala para não ter certezas. Que não é homem para não perder a hipótese de sonhar, e duvidar da realidade por Ti.
É triste a voz que não canta por Ti.
É triste, os olhos que percorrem as pedras da calçada e o alcatrão, e aos quais a luz do Sol não vai chegar, por Ti.
É triste a música e o cheiro a tinta permanente, por Ti.
São tristes, os namorados sentados no corrimão encardido, a sorrir, por Ti.
É triste a velhota sentada na esplanada, que dá migalhas aos pombos numa pachorra fácil e desolada, por Ti.
São tristes as moças que empurram a transparência do vidro e pedem ao balcão, sem indiscretamente tirarem os olhos da mão que arde a escrever o que é triste.
E eu espero, sentado e calejado de amar e sangrar. Abandonado pelo telefone que não toca e pelo tempo que se mantém dilatado.
Quando o tempo deveria condensar-se, e eu, devia esperar, ansioso, sorridente, não pelo autocarro, mas por um sorriso que dissesse mais do que as letras.
Que dissesse mais do que o mundo que parou no instante e do que qualquer sensação. Mais do que a vida consegue clarificar. Mais do que o mais breve toque ou o mais longo romance.
Esse sorriso, que deveria vir-te nos lábios e dizer em sussurro,
Desculpa o atraso.