Sobre amor escrevo à mão.
Sobre beijos, escrevo á mão.
Sobre manhãs de Verão escrevo à mão.
Sobre músicas que levam o espirito a voar e o coração temer
e estremecer.
Sobre alguém,
escrevo à mão.
Sobre atrasos e textos escritos à mão escrevo à mão.
Sobre nós escrevo à mão.
E sobre insónias e adormeceres pensados,
Sobre mãos dadas e o mar a massacrar a costa numa milenar
música
Que embala namorados, em passeios sem destino,
Escrevo à mão.
Escrevo e escrevo, e vão se as cargas e as pestanas e as expressões.
E vão-se as linhas e os blocos.
Fica, só o rasto de tinta que deixa o aparo quando escrevo à
mão.
Dança, e pula de vírgula em palavra, bailando ao longo das
linhas onde a confusão é ordem que quase se podia chamar poesia. O rasto caótico
e latente no coração, onde mora o que na sua plenitude…
Me deixa solitário a escrever à mão.
Quando o Sol se deixa cair, ou o sono se teima em não habitar.
Quando a maré alta, cobre as pedras e foge a correr. Quando o
badalar das tantas ou das poucas ecoa junto do soalho
Eu escrevo à mão.
Quando o amor é ridículo. Quando o mundo deixa de olhar.
Quando o silêncio parece maior, na saudade que cessou e
abdicou pelo sonho e pelos planos.
Quando a madeira estala e ecoa no cosmos os cantos do
coração, escrevo à mão.
E, por fim, quando já
cansado ou sem tinta, calejado da escrita e do puro deleite que é escrever à
mão,
Caio no êxtase que cintila nas noites de Verão ou nas manhãs
junto ao mar.
Quando escrevo à mão…
Quando escrevo sobre amor…
Quando escrevo sobre beijos…
Quando escrevo sobre músicas que anseio dançar…
Quando escrevo à mão.
Quando a paixão é grande demais, e já não cabe no peito.
Escrevo á mão.
Onde mais que linhas a preencherem-se vejo o prolongamento do
ser nascer na tinta azul.
Deixo-nos existir… mais
do que no coração, no papel.
E sei e espero estar certo…
Hei de nos prolongar por muito mais linhas.
Porque escrever á mão é estar apaixonado.
21/03/2012
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