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domingo, 21 de novembro de 2010

O feijão da minha irmã

Ora bem, cá em casa, na bancada da cozinha que está junto à janela está um feijoeiro plantado pela minha irmã no principio deste ano. Não faço a mínima porque surgiu a ideia de pôr um feijão vermelho num vaso enorme, que dava para uns cem iguais a ele, isto com algum exagero como é óbvio. Mas lá no fundo aquilo apenas funciona como uma mansão de terra fértil, em que o pequeno e afortunado feijão levou a sua vida. Alimentado pela água e pelo café que lá se punha. Sim, eu sei o que estão a pensar. Café?! Faz parte das experiências que foram elaboradas em torno do feijão. E chegamos mesmo À conclusão que o café fazia o feijoeiro crescer mais depressa.
Então ao longo de meses o feijão cresceu, verde e possante, sem força quase para suportar as próprias folhas. Para resolver esse problema arranjou-se uma estaca e uns fios de um antigo novelo de lã. Pai agora de uma grande descendência o feijão estava no seu auge. O topo do saudável caule batia já no louceiro, e fazia os seus criados, e sustentadores desviarem-se das folhas para passarem para a marquise. Mimos e água nunca lhe faltaram. A minha irmã passava diariamente dez minutos depois da escola a pôr café na terra, e tudo com muito jeitinho não fosse a raiz do nobre feijoeiro ressentir-se.
E os meses passaram e o feijoeiro prevaleceu, até chegar o Verão. No mês de Julho chegou a hora de os seus esforçados súbditos tirarem férias e irem passar uns tempos fora. Um feijoeiro não vai à praia, portanto foi deixado, lá, no seu pedestal junto da janela. Apesar das recomendações de rega frequente e de café a por na raiz de vez em quando dadas a quem cá vinha a casa tratar do feijão, e de sua majestade o gato, o calor deve ter levado a melhor sobre o grande feijoeiro. Presumo eu que tenha sido o calor, mas não tenho provas disso. O resultado desta batalha estava à vista no final do verão. As folhas enormes tinham passado de verdes a castanhas, e o antes liso e resplandecente, estava agora, murcho e seco. A estería foi quase total, ao contactar tal facto. Ouvia-se do outro lado da casa: "O que te fizeram meu querido!?". O costume, crises da adolescência. Surgiram logo as sugestões de tirar os feijões sobreviventes do grande patriarca e mandar os seus restos mortais para o contentor do lixo comum. Tal não se fez. A criadora do feijoeiro opôs-se determinante-mente a desfazer-se daquela carcaça ressequida que havia já passado os seus dias de glória. E o feijão, agora fraco continuou a prevalecer junto da janela, sempre com o mesmo ar. Sem ir para a frente nem para trás. Sem dar sinais de vida apesar dos esforços de o ressuscitar.
Até hoje.
Dormia eu o meu sono de beleza quando me acordam e dizem : "João! vem à cozinha, tens de ver isto!"
E com um olho aberto e outro fechado, lá me arrastei aos tropeções até à cozinha. A minha mãe estava debruçada sobre o vaso como quem está à espera de que algo aconteça. Incentivou-me a imita-la, e lá olhei. Junto da vagem que se encontrava no plano inferior do feijoeiro que já começara a ser decomposto e tinha manchas de bolor, saía em direcção à terra uma ramificação verde,  jovem. O Sobrevivente da família. O soldado pioneiro. O rebelde que fugiu da protecção das paredes podres em que se alojava e dava ao vaso uma nova vida. Ninguém sabe o que acontecerá daqui para a frente, mas sabe-se que haverá luta, e esperança. Pois, quando tudo parecia estar a decompor-se um pequeno feijão quebrou o sistema e impôs-se.
Seria um excesso dizer que aquele feijão é um orgulho, mas pode dizer-se que a um nível diferente devíamos imita-lo e querer mais do que o que nos oferecem. A ambição nem sempre é insã.
Pensem nisto.

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