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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lápis da tabuada

Wow, que saudades de vir aqui esvaziar a cabeça. Após uma semana de castigo e castidade tanto literária como escolar, finalmente dou corda aos dedos e um espaço à montanha de tralha que levo em cima dos ombros.
Um alívio para todos os efeitos. Fazer o que não devo, como estar aqui a escrever, sabendo que amanhã tenho um maravilhoso de um teste de matemática é de facto uma acção imprudente e inconsciente. Bem ao género João Peixoto. Ah, pois, esse sujeito, que tem um jeitinho inquestionável para fazer o que não está moralmente correcto. Mas não vamos entrar por aì. Apesar de ele ser o meu ídolo, o blogger não tem capacidade para dígitos suficientes para escrever todos os notáveis feitos desta personagem. Felizmente.
Hoje vim só partilhar a minha felicidade momentânea.
Que ironia! O que esta vida nos faz. Acreditem ou não, o meu dia foi relativamente vulgar, tirando a parte da castidade. Lá está, vulgar, entrei na aula de matemática as oito e trinta e nove e saí os portões da escola às quatro e meia. Assisti a duas aulas, três speakings e tive educação física. A Teresa passou o dia a espicaçar-me, despertei olhares de repreensão na professora de português e um de incredulidade no professor de inglês, típico, ainda que em dias santos. Tive explicação de matemática e até tive direito a ralhete, cheguei a casa à uma hora e pouco e já jantei, e até aqui  estava no meu estado de semi-felicidade.
Mas foi aí que tudo mudou, graças àquele tipo que canta a maior parte das músicas da Disney, o Phil Collins.
A minha irmã que com a sua calma ancestral recolhia as rendas do Millionaire City, no facebook e ouvia uma música, que embora não reconhecesse de imediato a sua proveniência, sabia que a ouvira, no passado, algures numa cassete de VHS. Após umas trinta tentativas de adivinhação falhadas, lá me foi dito que era banda sonora do Kenay e Koda. Nunca lá chegaria, confesso, só tive a oportunidade de ver esse filme umas duas vezes. Não dá para nada não é?
Pus em sistema de repeat e começou o processamento de um sorriso, infantil, e ingenuo. A sensação de que voltava a ter sete anos.
Se tinha saudades de escrever, as saudade de ser criança, no puro sentido da palavra é mais que muita.
Por instantes achei que até queria dançar. E queria, mas a capacidade de o fazer, ficou-me limitada pelo facto de estar sentado. Preguiça...
Mas ficou a intenção. Aporou a saudade de correr de novo, pelos arvoredos da quinta do ramalhão, ou de jogar a bola na lama, até obter dela uma segunda pele. Sorriu ao pensar que outrora estaria eu a pedir para ficar acordado até mais tarde. E o mesmo sorriso aparece quando me lembro que já passei horas e horas a correr atrás das meninas ou a fugir delas, que entre tantos tempos já me chamaram de esquilo a piolho ou até travesso. Que saía as quatro da escola a saber que quando chegasse a casa, me ia dar sono de ouvir a minha mãe a dizer que não devia ter batido em alguém ou que não podia deixar de praticar a minha caligrafia assustadora, porque a Ir. Marta já estava cansada de não perceber as minhas letras nas cópias, ditados, ou trabalhos para casa. Saudade do primeiro de aulas, ou de os reencontros barulhentos e das paixões exacerbadas da primária. Das duas ou três namoradas que tinha, e o quão era perverso um simples beijinho na face. Santa Inocência. E Santa saudade. Do recreio do Bosque ou do ginásio novo. Dos rapazes e das meninas, dos dias de sol e daqueles em que este não queria dar a graça da sua presença num céu cinzento. Que falta me faz, o desconhecido e o contentamento fácil. As gracinhas, as brincadeiras, os passeios, e os 5 minutos que em cada aula antecediam os intervalos, tempo no qual se generalizava a loucura dentro da sala de aula. Loucura que desaparecia com um berro. E se restaurava com a sineta a tocar. Que saudades dos castigos, e das contas de multiplicar feitas à mão, com a ajuda dos lápis da tabuada. Era perfeito, sem margens para dúvida. Foram nove anos naqueles edifícios amarelos.
Deixo o texto e vou voltar a mergulhar nas minhas memórias, e ouvir mais uma vez a tal música. Afinal, ela provocou todos os desabafos, e um sorriso que tive de aprender de improviso, pois jazia perdido nos portões verdes e as janelas de guilhotina daquela escola que em dias de chuva, achava mais parecida com Hogwarts, que qualquer outro local no planeta.
Obrigado, a quem me baptizou de esquilo, de piolho e nigga. Obrigado aos na altura, rapazitos que jogavam comigo à bola antes de me ir embora, mesmo quando eu já tinha uns aninhos a mais que eles. Obrigado às paixões, às amizades, e ao sítio, onde correndo para o almoço os meus cabelos, loiros na altura esvoaçavam e se emaranhavam ao sol ou à chuva. Altura em que não queria saber ao que ia, só queria saber que sorria, e dava o meu último sprint, para chegar. Àquela porta, entre duas grandes janelas verdes.

5 comentários:

  1. Não acho isto nem engraçado, nem interessante nem legal. Acho isto completamente sem palavras.
    Meu amor, não tens que agradecer de nada. Eu é que agradeço por TUDO. São sem dúvida imensos anos contigo e tenho muito orgulho de tudo o que fizemos, aquilo que gozámos, as porradas que demos ... Tenho orgulho em tudo, pq tudo isto foi contigo. És como um irmão e sem dúvida que te amo, e espero que seja para SEMPRE e que aquilo que nos tem unido DURE.

    AMO-TE @

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  2. Sinto-me criança outra vez, fizeste-me lembrar da minha infância, onde tudo fazia sentido (e não fazia sentido nenhum) mas que, pelo gozo que nos dava, faziamos na mesma. Onde as amizades eram ingénuas mas verdadeiras, porque nestas idades não nos lembramos de que existe a mentira, senão para esconder à mãe a nota que tivemos a estudo do meio. Obrigada, por me fazeres feliz, agora que o li, e sempre que me lembrar do teu texto.

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  3. Obrigado Catarina. Ainda bem que te inspirei.Se isto é arte (que espero que seja) está a cumprir o seu papel. E obrigado por leres.

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